sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Porque eu gosto de Powerlifting




Porque eu gosto de powerlifting:

Eu gosto de coisas intensas, amor pra mim só se for intenso, amizade só se for intensa, mas intenso não quer dizer indelicado. Gosto de coisas e esportes delicados, não me refiro a delicadeza da Belle Époque, não me refiro a boa educação e os costumes nobres mal adotados pela burguesia, boa educação e frescuras são o ó do borogodó.

Admiro a delicadeza do ballet, o esforço e a precisão milimétrica que sustenta toda aquela graciosidade. Já ouvi e li eu te amo de algumas maneiras diferentes, aprecio o soneto perfeito, o por do sol exato e o beijo de cinema, da mesma forma que ouvir na barraca de cachorro quente a seguinte frase: cara, eu te amo para caralho! Para mim tudo isso é delicadeza.

O powerlifting é um ballet ao contrario, é mais fácil notar o que se chamaria de brutalidade e perder toda a poesia e delicadeza do esporte, do que entender a porção de ciência e idealismo que move de forma sobre-humana aquelas barras.

"a barra é um monte de eletron voando no nada, é a sua cabeça que empurra aquilo"

Marilia: http://mariliacoutinho.livejournal.com/

Mas a complexidade do esporte é apenas um dos motivos do meu gosto pelo powerlifting, o maior motivo é o anacronismo dos atletas. Eu não entendo a pós-modernidade, eu carrego bandeiras, clichês e idealismos da modernidade e sofro por isso. Como então não me apaixonar por atletas\loucos que na grande maioria das vezes pagam para competir, que ignoram o rígido padrão estético treinando pesado e moldando o seu corpo para o esporte que praticam? Que viajam e se hospedam na casa de quase desconhecidos, cujo valor comum é o powerlifting? E principalmente, não objetivam vantagem material naquilo que mais trabalham? Essa gente de corpo pesado e que levanta peso como maquina, faz o que faz por um dos sentimentos mais velhos da humanidade: amor.

“O levantamento de peso básico é a maior demonstração de “força pura” do mundo dos esportes”

Denílson: http://www.portaldoferro.com/artlevbas3.htm

Essa gente romântica de mais de cem kilos, que come sozinha umas três pizzas família, que não protagoniza novela da globo e tampouco cartaz de dia dos namorados, tem o total apreço desse otário que por hora os escreve com a delicadeza que eles cospem no chão.




3 comentários:

Marta de Camargo disse...

Mostrou a exata dimensão do sentimento envolvido em cada ato descrito como puramente mecânico...conseguiu descrever o powerlifting de alma...o amor e a dedicação fiel que cada movimento fisico envolve na cabeça de quem pratica, mas acima de tudo, determinou que a atividade corporal como um todo é bem mais que um exercício apenas muscular e trabalha com a paixão e a alma do indivíduo que vive toda ação em sua plenitude! Adorei!!!

Marilia Coutinho disse...

Acho que fazia um bom tempo q eu não tinha um impulso de chorar com algo, de modo que estranhei o engulho. Mas foi isso que esse seu texto preciso e de uma dolorosa beleza me causou. Por que? Não sei... Talvez porque o choque e identidade entre delicadeza e brutalidade, entre precisão e potência seja tão espetacular quanto uma supernova em foto de satélite: lindo de longe e intangível.
Ou talvez porque você tenha traduzido o intradutível extase que eu busco e de vez em quando alcanço nesse amor que, como tão poucos outros, para mim é pela vida: powerlifting.
TEXTO DO CARALHO.

Ruiva disse...

uhm..... você tem andado inspirado.
bjs