domingo, 14 de outubro de 2007

O FELIZ É O LOBO DO HOMEM:








O Feliz é o lobo do homem:

A historia é filha do seu tempo (Lefebvre), "Veritas, filia temporis" (Bernard de Chartres), O homem é o lobo do homem (Hobbes). Nada melhor e nem mais medíocre que começar um texto cheio de citações. Medíocre porque os supracitados nada têm a ver com a ruindade do teu texto; e melhor, porque dá um certo ar mentiroso de erudição, tipo: esse caboclo já leu mais de dois livros.

Cito porque cito, se fosse liquido cuspiria.

Hoje trataremos de atualizar Hobbes, trata-se de um adequamento temporal, é necessário tirar Hobbes do anacronismo e inseri-lo na pós-modernidade. (ele merece, ele merece! Sempre achei o Rousseau muito mais legal!). O homem não é o lobo do homem, o feliz é o lobo do homem. Analisando o pouco que ganho e o muito que gasto com psicólogas frustradas como eu, e mais inseridas no capitalismo do que eu.(porque elas ganham com a infelicidade delas, enquanto eu gasto com a minha.) Temos a prova cabal do meu argumento.

Os debates não mais se travam entre ter o direito absoluto sobre todas as coisas, ou renunciá-lo em favor de um soberano, tampouco se o homem é naturalmente bom, ou naturalmente mau, a questão é: se o homem é naturalmente feliz, ou naturalmente infeliz e se deve ou não abdicar de si em favor da Ritalina.

Hobbes caducou e acho eu, que as pessoas felizes também. É inadmissível casais de namorados esfregando suas felicidades anacrônicas, em nossas fuças marxistas – foucaultianas – derridianas – freudianas ou qualquer merda que o valha. É inaceitável que eles passem chupando sorvetes e sorrindo por aí, como se tivessem ganho na loto, exibindo o peso de suas felicidades sem qualquer embasamento teórico. Se esse tipo de sentimento não serve nem para banca de monografia, como pode servir para solução de vida de alguém. Pior ainda, como pode de fato remoçá-los?

Para essa gente boba, um poema sábio:




Um homem com uma dor:


Um homem com uma dor

é muito mais elegante

caminha assim de lado,

como se chegando atrasado

andasse mais adiante

carrega o peso da dor

como se portasse medalhas

uma coroa

um milhão de dólares

ou coisa que o valha

Álcool, éter, analgésicos

não me toquem nessa dor

ela é tudo que me sobra

morrer vai sera minha ultima obra
(Paulo Leminski)


Eu desconfio do caráter, de quem no século XXI nunca pensou ao menos por uns bons vinte minutos, nas milagrosas vantagens da fluoxetina. Desconfio da falta de poesia pós-moderna de quem nunca misturou Prozac com vinho. Acho realmente essa gente fútil um saco, alias: acho que ser bem resolvido é um saco. Não pega bem sequer para os academicos de administração. Não ter um trauminha, um medo bobo, uma neura chata, é totalmente improdutivo. Quando se é feliz não se escreve, se vive e “viver ultrapassa qualquer entendimento” (Clarice Lispector).

É absolutamente charmoso você pedir um vinho e a tua namorada falar o seguinte: hoje não amor, hoje eu tomei minha Sertralina... Você faz aquela cara de peixe morto, insiste levemente e ela diz: Ok amor, vou tomar só um golinho. Logo depois as gargalhadas e de um momento para o outro, ela tá rasgando os guardanapos lindamente, super agitada tal qual adolescente pilhada! (fofíssimos, a adolescência faz morada, em neurotransmissores com defeito.)

Se tua mulher querido amigo, vira para você no meio da noite e diz: amor, hoje não dá... hoje estou com maior dor de cabeça. Você pode não ser corno, mas sem duvida tem um modelo ultrapassado de mulher. O que ela deveria lhe dizer é o seguinte: querido, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, me deixam sempre muito bem, me deixam sempre muito feliz, alias eu estou muito feliz, eu estou ótima, alias, eu sou ótima, mas não estou com nenhum tesão!”

Os Franciscanos e os Beneditinos duelavam entre a seriedade e a gargalhada, o que levaria a Deus. Eu como nao tenho nem pátria e nem deus. Fui parido depois da revolução sexual, depois do movimento feminista, durante o colapso do socialismo real e perdi minha virgindade bem no meio da era da fluoxetina. Só posso ficar puto com essa gente feliz, arrotando em minha fuça, sua indulgência a minha contemporaneidade fudida!

Bom, na verdade mesmo, na verdade “mermo”, bem no meio da “olhota” da verdade, no meio do olho obsceno da verdade.

Se “tu for” bonitinha, tiver mais ou menos cara de triste, souber meio poema de cabeça e chorar sem saber porque. Me salve, viver aqui sozinho é chato para caralho! “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” (João Guimarães Rosa). Na verdade, na verdade, qualquer amor é anacrônico e eu tô muito carente de um final do séc XIX!

Bom, por que não tomei minhas bolinhas né?rs

Esqueci, eu não tomo bolinhas, eu tomo é no pim.......